Um pouco de Jay.

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Primeiro lugar quero deixar bem claro que não estou utilizando deste espaço para simplesmente falar da minha vida e dizer: esse sou eu!
Aqui embaixo relaciono não só a minha vida mas a busca pelo hip-hop que vocês um dia verão pelas ruas cheia de positividade e lutas ganhas.

Os tic-tacs dos relógios anunciam que o tempo está se encaminhando, tomando novos rumos, partindo de segundos anteriores para os próximos segundos. Vai de cada um definir a importância do presente em que vive e tornar este presente uma boa passagem para um futuro vitorioso e respeitado.
Observo em meu quarto ou no bus enquanto viajo cada flow em que os beats transmitem, é como se tivessem vida própria e dissessem algo. Mas não! Nosso cérebro foi adaptado pra entender o que é levada e o que é rima, e cada rima que sai nos da a certeza de que nascemos para entender o hip-hop, ou vice-versa.
Quando o media player automaticamente toca Kenn Starr ou mesmo 2Pac, aquele Wu-Tang impactante ou um som positivo do Pete Rock, passa um filme em minha cabeça e não consigo prestar atenção em mais nada. Totalmente conectado ao mundo do rap!
Não importa se você é negro ou branco, se é gangsta ou underground, se é chicano ou africano, a única certeza que você pode ter é que se orgulha ao acordar e se olhar no espelho sabendo que não é uma pessoa como outra, e sim uma pessoa que nasceu e vive para representar uma cultura e levar o seu pensamento para todos os cantos. Se não se orgulha, ta na hora de procurar se entender melhor, é só questão de tempo mesmo.
Quando tinha aproximadamente 11 anos resolvi comprar um cd do racionais (piratão mesmo) nas banquinhas de Torres e escutei esse cd até ele arranhar e não tocar de jeito algum.
Após esta fase de comprar cds e conhecer os grupos mais conhecidos no mercado (não exatamente os melhores, pois a midia engana demais) conheci um DJ e MC chamado Jean Blackin de Ubatuba-SP. Com este contato tive os 14 primeiros beats e pra mim tudo isso era mágico, pois aprendia a rimar vendo Cidade de Deus que passava nesta época na televisão.
Desde lá não parei mais, todas as noites antes de dormir pensava e penso umas boas rimas e corro pro notebook pra anotar. Alguns me perguntam: mas Jay, não é dificil criar estas poesias, seja lá qual o assunto? Respondo que mais dificil é conseguir não fazer uma poesia, dificil para mim é ouvir Valete, Emicida, Da Guedes, RZA, ODB ou Bone Thugs e não conseguir no mínimo tirar algum proveito e passar para um papel. Não estou relacionando a cópias, mas sim a transmissão de pensamentos que acabam se unindo e formando estas idéias da tua própria maneira.
Passaram aí quase 8 anos aprendendo a amar o movimento das ruas, o movimento que se originou das periferias e sai de lá como forma de reivindicar os direitos humanos!
Quando me refiro ao relógio no primeiro parágrafo estou relacionando a importância de decidir bons caminhos para caminhar e realizar uma meta em que você possa se orgulhar de ter chegado até este milésimo de segundo.
Desde então foram milhares e milhares de versos escritos, desde o tempo em que saía para deixar minha marca nos muros da cidade até hoje com 18 anos quando me especializei em projetos sociais dentro do hip-hop.
Com o passar do tempo fui conhecendo as mais diversas pessoas. MC's do México, do continente africano, rappers e colunistas daqui do Brasil principalmente. E posso dizer que de cada uma dessas pessoas que agem diferente eu pude entender o quanto o hip-hop abre caminhos para todos os tipos de pessoas.
Com 16 anos escrevi uma música para o grupo Pura Realidade (Parece ser Apenas Idéias) que me deixou muito satisfeito, no mesmo ano concluia o projeto chamado Hip-Hop Torres que só veio a acontecer no aniversário de Torres do ano seguinte.
Alguns me perguntam: Por que tu escreve tanto e não grava?
Bom... tudo tem a sua hora, e para mim a hora agora é de ajudar o hip-hop da cidade de Torres do meu estado com o que aprendi ao decorrer de todos estes anos. É uma honra que não há preço que pague, é um orgulho que ninguem tira. Estou com um projeto de gravação e tenho certeza de que todo este tempo não foi perdido, e sim aproveitado ao máximo.
Passei e passo noites e noites em claro concluindo alguns projetos em prol do hip-hop e isso me faz sentir útil.
Vários romances longos e curtos, histórias boas para contar aos netos e filhos, erros e acertos, mas a 8 anos a única certeza além do amor vindo de dentro da familia é que o rap me ajudou e me formou este Jay Flow que sou hoje.
Trabalhar no hip-hop no meio da papelada não me faz sentir menos da rua, porque no fim tudo isso é direcionado para esta rua e rezo para que todos os meus irmãos, inimigos, desconhecidos, adeptos e não adeptos, terem algum lugar dentro da sociedade para expressar suas ideologias e serem aceitos seguindo a velha questão de igualdade social.
Neste ano de 2010 todo este tempo de aprendizagem estourou da melhor forma possível. No verão, como DJ, toquei em Arroio do Sal-RS em um evento de graffiti, conclui um projeto para ser construido uma quadra de basquete de rua em Três Cachoeiras-RS e conheci White Jay que me apresentou a política como uma aliada, onde acabei me tornando Diretor Estadual da Nação Hip-Hop Brasil.
Há pessoas que sobrevivem apenas com o básico, e se ouvirem ou verem suas artes é problema deles. Pensar desta forma é ignorante, pois cada A que você diz deve ser ouvido pelo maior número de pessoas possíveis, ainda mais quando se trata de hip-hop dentro do Brasil.
Há aqueles que fazem da cultura hip-hop um hobbie, mas que também não percebem o quanto podem serem úteis ao passar seus conhecimentos adiante. E ta cheio de criança de pés no chão querendo aprender as coisas certas.
Sei que as prefeituras não apoiam nosso movimento, sei que acabamos vivendo sem eles, mas de alguma forma precisamos ir até lá e mostrar que é direito de todos nós que pagamos milhares de impostos ter o mínimo (eu disse o mínimo) de atenção. Isso é uma questão de tempo e experiência, em saber com quem falar e como falar, como estas portas serão abertas.
No meu pensamento político, não devemos ficar assistindo esta roubalheira e cruzarmos os braços dizendo: deixa eles, eles que se fod*m! Mas não, quem se fod* é nós mesmos, é sua familia que joga rios de dinheiro em impostos anuais, mensais, semanais e diários.
Vocês não acham que se a cultura hip-hop ir para as ruas, se unir de verdade, mostrar que estamos vivos e merecemos aquela "mínima atenção" não será mais facil? Os resultados só aparecem com o tempo, quando martelamos até conseguir aquilo que queremos, e quem está comigo nessa sabe o que estou falando.
O que minha história tem a ver com tudo isso? Pois bem, quero deixar bem claro que sobrevivi aos mais variados preconceitos ridículos e ignorantes, sobrevivi a várias quedas quando estava para conseguir algo de bom para o movimento de rua. Hoje posso dizer com toda certeza do mundo que a política é e vai continuar sendo uma aliada, mas não me refiro aqueles que negam apoio a cidadania, mas sim a aqueles que estão no topo quando o assunto é cultura jovens e educativas.
Fiquem a vontade para criticar, mas saiba que pelo menos terá que perder uns bons dias discutindo o assunto, pois o relógio passa e me faz ir adiante não só com os acertos mas com os erros também. Aprender a ouvir é importante!

Att. Jay Flow
Diretor Estadual da Nação Hip-Hop

1 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom o texto Jay!
Começou bem falando da sua vida, do início de tudo... Legal pra galera saber como que foi até aqui. Que não foi do nada, não é de uma hora pra outra que as coisas acontecem. Tem todo um trabalho de anos por trás e um trabalho maior ainda está por vir.
Que a gurizada se inpire pra começar a fazer as próprias coisas, sons, beats... é isso ai!
Um abraço! -Lipi

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